21 junho 2010

Couvert artístico: cliente paga, músico não recebe



Um bar é um local de convivência, sociabilidade, confraternização, encontro. Para se diferenciar, alguns deles preferem atrair clientes com o música ao vivo. Isso acontece há anos. Mas já faz tempo que os músicos estão muito insatisfeitos com a remuneração que recebem, devido à mudança na forma como os bares vêm pagando (ou não) os profissionais.

Em um primeiro momento, um bar que quisesse ter um músico tocando ao vivo tinha que pagar um cachê. Há inclusive sindicatos que estabelecem uma tabela para esses valores. Com o passar dos anos, o cachê foi ficando “caro” para os bares, e surgiu um tipo de remuneração diferenciada, chamada “couvert artístico”. Nesse tipo de cobrança, o dono do bar não paga o cachê, mas recebe dos clientes um valor pequeno que é destinado exclusivamente para o músico. Ou seja, quanto mais gente no bar, mais o músico ganha (e também o dono do bar, pois é maior o número de clientes).

Na teoria, funciona assim: os bares ganham um ar diferente, conseguem emular assim um clima de uma casa de shows, criando um novo “apelo” para chamar clientes, enquanto os artistas conseguem ampliar o alcance de seu trabalho, divulgando seu nome para um público seleto e com o qual pode interagir. Uma parceria que funciona para os dois lados.

Porém, esse modelo de negócio se deteriorou ao longo dos anos, por inúmeros motivos: concorrência entre bares, concorrência entre músicos, etc. Por isso, os bares passaram a praticar um novo tipo de cobrança: exigem o valor dos clientes, mas não repassam para os músicos – pagam, obviamente, um cachê menor do que o valor arrecadado. Uma “esperteza” possibilitada pelo extremo estado de desorganização dos músicos, que já não sabem mais quais são seus direitos e como exigi-los. Mas a situação também é permitida pela desinformação dos clientes, que não sabem que estão pagando para encher o bolso do dono do bar, e não do músico.

Couvert artístico é como se o músico “passasse o chapéu” entre os clientes com a permissão do dono do estabelecimento. É uma parceria, em que o músico atrai frequentadores para o bar, e ganha uma pequena gorjeta de cada um. É justo, portanto, que receba o valor integral.

Já há projetos de lei em alguns estados regulamentando a cobrança de couvert artístico, já que essa é uma forma de remuneração que altera inclusive as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Na Câmara dos Deputados já tramita um projeto, aprovado na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, que disciplina a cobrança. Pela proposta, a contratação do músico profissional por parte dos bares poderá seguir dois modelos: existência de contrato de remuneração por horas de trabalho, ou contrato de remuneração variável, no qual o músico é ganha o valor integral pago pelos clientes que frequentarem o local durante a apresentação musical.

* publicado na coluna ETC&Jazz da Folha de São Carlos, no caderno de cultura Moitará, do dia 17/6.

8 comentários:

  1. Por isso abandonei esse tipo de estabelecimento...tocava 4h de som na noite e recebia 300 reais p/ serem divididos entre todos os músicos que tocaram...agora eu te pergunto, quantas pessoas passaram pelo bar e pagaram o couvert de 3 reais durante essas 4h de som???

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  2. Pois é, a transparência nesse tipo de parceria é um problema.
    Além disso, o valor cobrado está muito defasado. E tem banda por aqui indo tocar por um "mínimo de R$ 100"... banda inteira! Os músicos, às vezes, merecem os empregadores que têm...

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  3. às vezes não só merecem os empregadores que têm...mas também a audiência local...clientes menos exigentes, empregadores menos seletivos, bandas mais baratas e amadoras...um círculo vicioso.

    a sociedade moderna mundial precisa de educação musical...rs

    abraçsonoros e desabafados

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  4. Na verdade só os músicos é que podem mudar esse tipo de exploração. Um músico tem que se dar o respeito e nem sair de casa se for pra tocar 3 ou 4 horas e ganhar e ganhar menos de R$ 200,00,R$ 250,00.

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  5. Obrigado pela visita Edi. Reconheço que ninguém deveria tocar por um pagamento que não compensa, mas também ninguém pode ser culpado por ter que se submeter às regras desse mercado selvagem que se tornou o mercado musical. Eu posso me dar ao luxo de recusar cachês pequenos, porque também tenho trabalhos jornalísticos, mas e os músicos que não podem?
    Concordo que só músicos podem mudar a situação, mas é muito difícil fazer isso sem a união com outros músicos. É difícil ter coragem de se unir como classe e lutar por direitos como trabalhadores organizados, única forma de conseguir lutar por cachês melhores sem correr o risco de concorrer com outro músicos mais necessitado ou desinformado.

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  6. os musicos tem que se valoriza,poxa vcs são profissionas não amadores um abraço para todos!!

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  7. Aqui na Bahia também ocorre muito isso...têem donos de Bares e Restaurantes, que pagam parte da sua folha de Empregados ( cozinheias, copeira, etc,) com a sobra do Couvert pago pelos clientes. "ISSO É UM ABSURDO". E a porqueira da Ordem dos Músicos nada faz...abraços!
    Hermano " MANO VÉIO "

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