14 março 2010

Milagre do Jazz

Milton Nascimento, no auge de sua carreira, se apresentando no Festival de Jazz de Montreal (Canadá). A música é a primorosa "Milagre dos Peixes" - milagre de complexidade e singeleza que só os gênios atingem em suas composições.




No show, gravado em 1990, o convidado especialíssimo Wayne Shorter destila notas inimagináveis ao sax soprano (aos 2'20'' ele começa o solo na mesma nota aguda que Milton emite no final de seu canto, e vai acrescentando elementos de grande expressividade até o final da música).

Shorter gravou o disco "Native Dancer", em 1974, ao lado do mineiro, improvisando e arranjando quase somente as canções de Milton (o pianista era Herbie Hancock, imagine o som...). Não há palavras para descrever as possibilidades. As composições oníricas, épicas, sensoriais de Milton (e sua voz sobre-humana) com o sax post-bop de Shorter. Só ouvindo pra crer.

O disco já fazia minha cabeça há anos, quando o encontrei numa das obtusas (e quase sempre surpreendentes) gôndolas das Lojas Americanas, custando uma merreca. "Tarde", "Ponta de Areia", "Milagre dos Peixes", além de composições funkeadas de Shorter e Hancock. Delírio tropical, de dois gênios americanos se arriscando na gruta azul mineira que é o universo poético de Milton. Não dá pra saber se resulta em um disco de música brasileira ou de jazz, pois os melhores elementos desses dois mundos se mostram de forma inseparável - seja nos ritmos intensos, seja na espontaneidade da interpretação.

Native Dancer (1974)

Wayne Shorter (soprano & tenor saxophones); Milton Nascimento (vocals); Herbie Hancock (piano, rhodes); Airto Moreira (percussão); Dave McDaniel (baixo), Robertinho Silva (bateria), Wagner Tiso (piano), Jay Graydon e Dave Amaro (guitarra & violão).


1. Ponta De Areia; 2. Beauty And The Beast; 3. Tarde; 4. Miracle Of The Fishes; 5. Diana; 6. From The Lonely Afternoons; 7. Ana Maria; 8. Lilia; 9. Joanna's Theme

7 comentários:

  1. Murilo,
    Esse disco é maravilhoso - também comprei numa dessas ofertas da Americanas ou da saudosa mesbla (não lembro bem).
    Só fera tocando e o resultado fica à altura dos envolvidos - completamente distante daquela coisa "macumba prá turista" que algumas vezes se observa em álbuns reunindo músicos americanos e brasileiros.
    Abração!

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  2. neste vídeo aí o milton tá cantando pra caralho. já o wayne shorter não consegue construir algo muito sólido na minha opiniao. repara que ele tenta alcançar a nota do falsete do milton e não consegue.

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  3. Eu já gosto muito do jeito que Wayne toca, seus solos são muito intuitivos e expressivos, acho que combinam muito com o jeito lírico de Milton... o sax soprano acaba emulando o canto dele. Sobre o iníco do solo, ele começa rodeando as notas de Milton no final e, quando ele finaliza o canto, com um salto de oitava, Wayne está exatamente na mesma nota. Acho que seria muito difícil não "alcançar" a nota de Milton, o sax soprano tem uma extensão mais aguda que a voz humana.

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  4. Obrigado por este Shorter! E pela visita ao Yestojazz. Grande abraço.

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  5. Obrigado pelo post!
    Wayne Shorter é dono uma eloquencia sedutora. Desde os tempos do Weather Report ele já mostrava o que eu chamaria de lirismo abstrato. Um amalgama de precisão estilistica e liberdade, terreno onde poucos transitam. E o nosso Milton...é o nosso Milton.

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  6. Certamente que Shorter é mesmo um expressionista abstrato do jazz, igual a um Jackson Pollock na pintura. E Milton é também o compositor mais hermético e o intérprete mais exótico da MPB (pelo menos nessa época...). Obrigado pelos comentários, pessoal.

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