02 fevereiro 2010

Monkeando a música

















Thelonious Monk é um dos pianistas mais arrojados de todas as épocas do jazz. Seu estilo despojado, exótico, sujo, direto e aparentemente caótico de tocar conferiu ao bebop uma identidade harmônica ousada e colorida. Suas notas pareciam fortalecer as melodias intrincadas com notas de sustentação muito calcadas nas alterações da escala (b2, b3, b5, b6, b7). Seus acordes sempre soam secos, cortantes, angulosos - mas encaixam perfeitamente nos escassos vãos entre as centenas de notas dos temas do bebop.

Monk levou adiante seu estilo em suas composições, em que experimentou diferentes abordagens do espectro harmônico ao criar melodias com grandes saltos ou pequenos cromatismos. Nesse contexto, sua "arma secreta" era o uso da escala de tons inteiros - usada por Debussy e outros impressionistas no âmbito da composição erudita - nos acordes dominantes de suas criações, gerando improvisos bem-humorados e irreverentes devido à sonoridade peculiar dessa escala.

Seus temas são poucos - cerca de 70 - e quase sempre fazem referência ao blues, seja na forma estrita de 12 compassos e 3 acordes - que ele modificou, usando estruturas como I7 - IIb7 - I7 - V, ou I7 - VIb7 - II7 - V7 ao invés do clássivo I7 - IV7 - I7 - V7 - seja na expressão direta e límpida do conteúdo. Poucas notas, mas organizadas de forma a criar pequenos universos expressivos únicos e inesquecíveis. Pequenas jóias jazzísticas, que falam sobre o Bronx, o Queens, o metrô, os clubes da rua 52, as noites mal-iluminadas, os passeios sobre as calçadas úmidas e becos sombrios de Nova Iorque.

Foi em um disco do pianista panamenho Danilo Perez que pude entender a irreverência da música de Monk. Em Panamonk (1996), Perez usou abordagens semelhantes às do mestre nova-iorquino e recriou algumas das pérolas do repertório monkiano em um novo contexto rítmico, usando ritmos caribenhos para improvisar sobre as canções. Ou seja, emprestou de Monk seus tempos e fraseados exóticos para elevar a um novo nível de complexidade seus próprios temas. Além disso, Perez também compôs canções seguindo o estilo "desengonçado" de Thelonious, deixando o disco simplesmente delicioso de ouvir.

Panamonk (1996)
Danilo Perez - Piano; Terri Lyne Carrington, Jeff Watts - Batería; Avishai Cohen - baixo; Olga Román - Voz  (01) Monk's mood 1 (02) Panamonk (03) Bright Mississippi (04) Think of One (05) Mercedes' mood (06) Hot Bean Strut (07) Reflections (08) September in Rio (09) Everything happens to me (10) 'Round Midnight (11) Evidence and Four in One (12) Monk's mood 2



Um comentário:

  1. Oi, Murilo.
    Vi o seu comentário no Farofa Moderna e vim fazer-lhe uma visita.
    Muito bom o seu blog - e bacana é que você tem formação musical, o que permite uma análise mais técnica dos músicos e álbuns postados.
    Virei sempre aqui!
    O Panamonk é um álbum maravilhoso - como a América Latina tem pianistas talentosos, como o Danilo Perez, o Michel Camilo, o Rubalcaba, o nosso David Feldman, entre outros.
    Um grande abraço!
    PS.: Quando tiver um tempinho, visite o jazz + bossa:
    www.ericocordeiro.blogspot.com

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