15 março 2012

Kombis e política*

















Passou o Carnaval, acabou o horário de verão, daqui ao fim do ano é um pulo. O calendário passará ainda mais rápido porque é ano de eleições municipais. O mercado publicitário já se mobiliza desde o fim do ano passado para captar clientes e realizar suas campanhas políticas. De arrasto vem o mercado da música, responsável pelos jingles – as famosas musiquinhas que ajudam a fixar na memória os nomes daqueles que poderão (ou não) estar no nosso foco na hora de apertar os botões da urna.

Os estúdios e produtoras musicais estão por aí a inventar soluções para chamar a atenção dos eleitores. Preparem as kombis com suas horrendas cornetas de som, pois os jingles vêm aí. O recurso da “musiquinha que vende” existe no mundo desde 1926 – no Brasil, desde 1932. A fórmula do sucesso é conhecida: letra fácil, com um bom refrão, harmonia simples, melodia econômica, tudo se desenvolvendo em um ritmo que faça não só o corpo, mas também as idéias “dançarem” na cabeça de quem escuta. A música como um conceito “cantável”, o discurso do candidato materializado no som, prontamente identificado pelo ouvinte.

A criatividade de marqueteiros e produtores musicais atinge níveis realmente estratosféricos – assim como o valor das campanhas. Basta lembrar alguns cases de sucesso. “São Paulo é Paulo porque Paulo é trabalhador”. “Lula lá”. “Ey, Ey, Ey-Mael”. “Alô, alô, quatro, cinco, um.” Pronto, você já sabe. Lembrou-se de cada candidato em uma foto sorridente, em um terno impecável, mãos acenando vitoriosas. O jingle publicitário é isso aí: tem justamente a função de emoldurar um retrato, acompanhar uma imagem, engrandecendo virtudes e ajudando até a esquecer defeitos.

No ramo do marketing, costuma-se dizer que propaganda não vende mercadoria ruim, porque não há produto que resista ao teste máximo de qualidade: o teste do consumidor. No ramo da política, o uso do marketing para maquiar um “candidato ruim” tem conseqüências mais graves. Depois de votado, o produto (ops, o candidato) só pode ser devolvido quatro anos depois. Portanto, ele dura sim, resiste aos mais diversos escândalos, denúncias e intempéries políticas. Igualzinho a outro case clássico da sabedoria popular, o do vaso ruim que não quebra. E então, caro eleitor, o que você vai fazer? Só restará esperar mesmo esperar as kombis voltarem, quatro anos depois, e ouvir as novas musiquinhas que tentarão, mais uma vez, embalar seu voto.

*texto publicado com cortes na revista Perfil Araraquara, março/2012

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