09 janeiro 2012

Michel Teló pegou os editores da Época

Já falaram muito sobre o assunto, mas eu também não podia deixar de me manifestar sobre algo que envolve música e jornalismo, justamente um dos pilares que sustentam esse blog, se é que se sustenta.





















A capa da revista Época da primeira semana de janeiro foi, no mínimo, equivocada. Confundiram a superexposição na mídia do cantor (e compositor também??? não sei...) Michel Teló com a emergência de um novo símbolo cultural nacional, que representa o gosto musical de toda uma classe social brasileira. Se isso fosse a verdade, a falsa capa abaixo, satirizando Beethoven e sua presença marcante nos caminhões de gás e esperas telefônicas do Brasil inteiro, poderia muito bem ser publicada.





















Adorei o raciocínio dos humoristas de plantão nas redes sociais. Não importa se é Michel Teló. Não importa se é Beyoncé, Lady Gaga ou se é Beethoven. Apenas espanta o fato de jornalistas confundirem todo o turbilhão midiático em torno de uma música (que vai passar, assim como passou o "Rebolation" e o "Créu", lembram?) com uma nova ordem social, merecedora de análises antropológicas sobre o Brasil e sua nova classe trabalhadora emergente. Para os editores elitistas da Época, Michel Teló é o carimbo que lhes faltava para atestar, de boca cheia, que o povão não sabe mesmo nada de música - "não falei que essa nova classe C não tinha gosto? Michel Teló é o máximo que eles têm pra nos mostrar."

E também nem vou falar do uso errôneo da expressão "cultura popular" no subtítulo, em lugar de algo mais apropriado para definir a música de Teló, "cultura de massa". A chamada foi uma pegadinha. O fenômeno Michel Teló "pegou" os editores. Afinal, se uma música está tocando em tudo que é lugar, pode até ser adjetivada como "popular", mas isso não é o mesmo que dizer que é fruto da cultura popular.

Cultura popular é justamente o lugar das manifestações espontâneas, ligadas a uma tradição oral, a um folclore e a priori não mediatizadas (com algumas exceções, pois eventos como o Carnaval e o Bumba-meu-boi já se tornaram produtos culturais de massa em certa medida). O termo é usado, portanto, com parcimônia. Nem Rolando Boldrin, que tem um programa na TV educativa paulista há décadas sobre músicas, literaturas e manifestações culturais populares, se dá o direito de dizer o que é ou não cultura popular. Ou os editores da Época acham que Beethoven é cultura popular porque é o hit dos caminhões de gás do Brasil?

3 comentários:

  1. Ótimo texto, só lembrando que nao é só a classe C trabalhadora que considera isso música,conheço muitas pessoas da classe média com péssimo gosto musical...

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  2. Com certeza Anônimo, os editores da Época é que fizeram essa relação infeliz... acharam que a música de Teló é o novo ícone cultural da nova classe trabalhadora... como se trabalhador não tivesse outros gostos musicais e todos fossem influenciados igualmente pela cultura de massa. Triste.

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