22 fevereiro 2010

Free Ragtime ou Ragged Jazz?
















Achava que "Mostly other people do the killing" fosse o nome de mais uma dessas bandinhas indies sem muito conteúdo que surgem às pencas no cenário do rock hoje em dia. Mas lendo as últimas Downbeats percebi que os caras são a nova febre sim, mas do jazz. Há várias referências ao quarteto, que foi considerado o "melhor grupo em ascenção" (rising star ensemble) pelos leitores da revista em 2009 e acaba de lançar seu quarto disco, Forty Fort (HotCupRecords, 2010).

Peter Evans no trumpete é virtuosístico e lógico; Jon Irabagon, no sax tenor, é um dos nomes mais relevantes do instrumento nos dias de hoje, tendo vencido o famoso concurso do Instituto Thelonious Monk em 2008; Kevin Shea, na bateria, é bem conhecido na cena indie americana por ter liderado algumas bandas de rock mais experimentais; e Moppa Elliott, no contrabaixo, assina a maioria das composições e é o mentor intelectual dos "assassinatos" musicais perpretados pelo grupo, que segue matando a pau.
 
Tornaram-se a nova sensação do momento por três motivos: são excelentes músicos, todos tendo estudado em conservatórios e escolas importantes dos EUA; fazem uma música vibrante e inovadora, que traz de volta o espírito alegre e irreverente do jazz pré-1930; por fim, têm um dos únicos shows de jazz que dispensa fileiras de poltronas ou cadeiras nos últimos tempos, sendo tão divertido de assistir quanto um show de qualquer outro tipo de música(*).

A diversão voltou. Basicamente é isso que o grupo mostra em suas composições realmente inovadoras sob o ponto de vista estrutural - semelhante a uma série colagens de motivos de jazz, clichês e ritmos que vão de New Orleans a Bangladesh -, o que chamou a atenção da crítica. Mas também ganhou o coração do público, que reconhece melodias, interações rítmicas e as estrepolias (se é que podemos chamar assim as verdadeiras explosões de notas, rasgos harmônicos, polirritmias e síncopes) que os músicos inserem nos improvisos coletivos, criando um contexto musical familiar para suas recriações musicais mais arrojadas. Ora soa como ragtime desconstruído e recortado, ora soa como "ragged" jazz, feito em trapos e recosturado como bossa nova ou reggae - bagunça legal de ver e de ouvir.

(*) justamente por isso o grupo é bem melhor de ver do que só ouvir... preferi colocar um vídeo do que um link para o cd.


4 comentários:

  1. Grande Murilo,
    Não conheço a banda, mas a capa do álbum presta uma homenagem ao Out Of The Afternoon, disco fantástico do Roy Haynes, com Tommy Flanagan, Henry Grimes e o inclassificável Roland Kirk.
    Falei sobre esse disco no jazz + bossa:
    (http://ericocordeiro.blogspot.com/search/label/Roy%20Haynes).
    Abração!

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  2. É isso mesmo Erico, o pessoal do MOPDTK sempre parodia alguma capa de disco de jazz em seus lançamentos.

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  3. Caro Murilo,
    Muito legal seu trabalho aqui no blog!
    Espero que possamos manter contato... o trabalho lá no narrativasmusicais é mais uma forma de "tirar da gaveta" materiais que são extremamente importantes e ajudam a contar um pouco da história da música em sampa. Espero que possam surgir muitos blogs como os nossos e outros que valorizam a boa música!! Forte Abraço!

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