23 setembro 2009

George Benson, um golpista?

Em sua coluna no site yahoo, o editor Regis Tadeu desceu o sarrafo no novo disco do guitarrista e cantor norte-americano George Benson, "Songs and Stories". Acho que Regis se decepcionou com o disco por basear sua opinião em uma noção errada: achar que Benson fosse um be-bopper. Por isso está um pouco exaltado na coluna, ao afirmar que o guitarrista "vendeu a alma" ao produzir um disco que é "uma trilha sonora perfeita para uma festa de bodas de prata".

Escutem e tirem suas conclusões:


"Digam se o solinho que começa aos 2 minutos é coisa de "comercialismo"...

Pergunto para o Regis Tadeu: porque Benson vendeu a alma? A alma dele não pode ser essa aí que estamos ouvindo, do cara que produz sucessos comerciais misturando boa técnica musical com melodias que "pegam" no ouvido? Benson faz o que faz com maestria, não apenas por "se preocupar em agradar um mercado que poderia lhe render uma grana muito maior". Esse é seu verdadeiro talento. Ao contrário do que afirma Tadeu, Benson é, sim, livre para fazer a música que ama, e é essa a que ele sempre fez.

Já há muitos anos que Benson é considerado um artista comercial no meio musical americano. Só os brasileiros aqui é que não sabiam direito o que era jazz e achavam que Benson era um be-bopper. Não é um jazzman, mas é um artista competente, verdadeiro, que traz para sua música o toque sutil e suingado do jazz, mas com arranjos simples que agradam o grande público. Assim faz Kenny G (que já tocou em gigs de jazz), Richard Clayderman (bom pianista erudito), Ray Conniff (que transformava qualquer música em hit de baile, é só ouvir as célebres gravações de Besame Mucho e o Concerto n5 de Tchaikovsky, que passaram do kitsch ao cult). Questionar este tipo de artista só vale se estivermos prontos a questionar nossos próprios ouvidos, que sempre desejaram e continuarão desejando boas melodias - que são necessárias na festa de "bodas", na festa de casamento, e em várias outras situações. Música é um produto que se usa igual remédio: em doses certas, nas horas certas.

O colunista ainda diz que Benson "contagiou" o produtor do disco, Marcus Miller, com seu suposto mau-gosto. Isso demonstra que o colunista não conhece muito bem o perfil do produtor, que é baixista e multiinstrumentista. Ele é um grande músico de jazz, mas sempre teve um pé no pop, rock, funk e eletrônica. Seu trabalho com Miles Davis teve pouco a ver com jazz mainstream, assim como o disco que produziu do mestre post-bop Wayne Shorter ("High Life", ganhador de um Grammy), onde todas as faixas têm loops programados - e ainda assim é um disco de tirar o fôlego devido à concepção arrojada e dinâmica. Miller não foi contagiado não, mas sim o contrário - com certeza foi ele quem deu uma direção mais pop ao disco de Benson, pois tem um entendimento espetacular de grooves e programações eletrônicas.

Se eu concordo com algo que Regis escreveu é que o jazz não ganha nada com este disco de Benson. Mas condená-lo por isso é um erro, pois o que o guitarrista faz não é jazz, mas boa música pop. E deve ser aplaudido por isso. Basta ouvir. Garanto que você vai sair assobiando as melodias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço a sua participação. Comente livremente. Comentários mal-educados e sem fundamento serão excluídos.