12 março 2009

Jazz life




Acabei de ler "Improvisando Soluções" (Ed. Best Seller, 2008), do jornalista especializado em jazz Roberto Mugiatti. O livro conta a história pessoal de grandes músicos do estilo, mostrando como superaram dificuldades e desenvolveram ferramentas - seja no jeito de tocar, seja no modo de vender o peixe - para sobreviver e fazer sucesso no jazz. Uma espécie de "faça como eles fizeram", auto-ajuda que vem bem a calhar para um músico como eu, que acabou de deixar um emprego fixo no jornalismo para ganhar o pão na selva musical.
Ter a capacidade de transformar o "limão numa limonada" - ou de arpejar sobre os acordes revolucionários de "Giant Steps" (John Coltrane) em uma sessão de gravação sem nunca ter lido a partitura antes - é a grande lição do livro. Eis alguns fatos interessantes:

- John Coltrane estudava horas e horas todos os dias seu sax tenor, irremediavelmente descontente com seu som. Mesmo quando tocava ao lado de gigantes como Miles Davis. Até que no fim da vida descobriu o sax soprano e fez música até com um instrumento feito de plástico, dizendo que podia "tirar som até de um cadarço se fosse sincero". Gênio, mas também um batalhador incansável.

- Lester Young era escurraçado de grupos instrumentais porque achavam que seu som de sax era "mole", "sem vigor", "afeminado" até. Pois ele se eternizou nas gravações com Billie Holliday, onde seu sax sofisticado, sopro "cool" e bem colocado estabeleceu um novo tipo de sonoridade, que se tornou própria do jazz até os dias de hoje.

- Thelonious Monk tem exatas 71 composições. E em seus shows interpretava sempre os mesmos standards, pinçados de um escopo de pouco mais de 40 canções. Não conseguia ser um pianista comercial. E hoje todos os pianistas comerciais se interessam pelos voicings de seus acordes angulosos, indispensáveis para quem quer soar com um mínimo de ginga jazzística;

- Parece mentira, mas João Gilberto cantava num conjunto vocal nos anos 50, com direito a vozeirão e gravata borboleta. Até que encasquetou com a música que fazia no violão, tentando fazer um som que ninguém tirava na época. Passou dois anos sem trabalho, morando de favor na casa de amigos e parentes, até que foi internado num hospício no interior de Minas Gerais pra ver se tomava jeito na vida. Só depois, de volta ao Rio de Janeiro, é que perceberam que o som que ele procurava no violão era a revolucionária batidada da Bossa Nova, técnica de tocar que mudou a história da música mundial.

Tirar do jazz lições para a vida. O jazz, com seu jeito de brincar com os sons, explorar silêncios, criar ou derrubar expectativas, comunicar-se com outros músicos e ouvintes, é simplesmente um jeito de encarar a música. O que significa que a vida pode ser tão criativa e rica como uma jam session se for levada com mais leveza.

7 comentários:

  1. Murilo parabens pelo Blog e pela coragem de largar o jornalismo pra apostar de vez na musica, a musica feita com sinceridade e verdade nos traz uma satisfação e alegria que não tem preço , mas tem valor, na minha opiniao na vida o importante é ser feliz, sem perder a responsabilidade é claro, pra mim um artista bem sucedido não é aquele que atingiu a fama atraves de grandes meios de comunicação e sim aquele que tem uma profissão honesta como qualquer outra que pague suas contas e lhe de condiçoes dignas de vida. Te considero um verdadeiro artista pois vc vive de arte e te admiro demais na sua caminhada desde nosso primeiro show juntos lá no Filo mde 2001 que passei a admira-lo como pessoa e como musico que em meus humildes 20 anos de musica nunca conheci um musico e uma pessoa tão completa, parabens continua sendo essa pessoa maravilhosa que vc é que Deus vai continuar te abençando cada dia mais com certeza absoluta.
    È mais que um prazer, é uma honrra disfrutar de sua amizade e tocar e gravar com vc.
    Grande abraço de um cara que te admira demais .
    Kiko Jozzolino

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  2. Kiko, você é o cara. E continue a me ajudar a pagar as contas me chamando pras suas gigs!

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  3. Fala Murilo. Grande opção. Se eu tocasse qualquer coisa sabe que repensaria a minha vida. Mas nunca aprendi nem a tamborilar nem caixa de fósforo.
    Abraços
    Cláudio Osti

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  4. Claudião, se eu tivesse o seu bom humor e talento pra escrever aquelas crônicas esportivas, também repensaria minha vida. Grande abraço.

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  5. ei! o livro parece ótimo...boas história vocÊ ciotu!
    gostaria de lhe indicar o som de um pianista...da uma ouvida
    www.myspace.com/rodrigoandreiuk
    acho que pode gostar
    abraço
    Chris

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  6. Conheço esse livro, é muito bom mesmo. As deliciosas histórias dessas lendas da música já bastariam, nem precisava fazer os paralelos em forma de lições de vida (achei meio chata essa parte).

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  7. Com certeza Edison, o livro é meio "auto-ajuda" para jazzistas... pra mim foi legal pois me incentivou muito a dar uma guinada na minha vida profissional, mas às vezes as histórias só são boas mesmo pelo que elas são, e não pelas lições...

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