27 janeiro 2012

O jazz e a competição musical





















Um aspecto importante da sociedade norteamericana é a competitividade, na qual homens e mulheres têm que provar que conquistarão o mundo com seu trabalho duro, talento e dedicação, e honrarão a "terra dos bravos e da liberdade" mostrando que são os melhores em suas áreas. Há os winners e os losers. Vencer é a meta. Todos escolhem seu alvo, cada um em sua área, e saem todos em busca do objetivo. A criança é colocada na melhor escola, para que possa ter as melhores notas no SAT (exame igual ao Enem) e poder entrar na melhor faculdade, que os pais terão de pagar com economias que fizeram a vida toda pensando na educação do filho - afinal, é assim que se cria vencedores.

No processo educacional, mais competição. Competem para ver quem será a rainha do baile, quem será o presidente do grêmio estudantil, quem é o mais popular, quem soletra melhor, quem vende mais chocolates na gincana. As escolas competem para definir quem tem o melhor time (de vários esportes), quem tem a melhor equipe de cheerleaders, quem tem a melhor banda. Sim, há educação musical nas escolas, que eventualmente formam bandas, que sempre competem. Competição musical.

O filme "Drumline" (EUA, 2002, Charles Stone III), ao qual assisti dia desses numa sessão da tarde (sim, janeiro é meio parado para a música então, que diabos!, assisti mesmo), mostra bem esse clima de disputa que há na música no meio escolar. Traz cenas incríveis como essa abaixo, onde as bandas de duas faculdades se desafiam num duelo de baquetas. As coreografias e a sincronicidade são incríveis, mas há músicos que dizem que, na vida real, essas bandas fazem coisas ainda mais impressionantes do que o filme mostrou. Mas vale a pena conferir:


Nos EUA, os músicos do jazz passam por esse processo tentando ingressar em boas escolas, fazendo provas para ganhar bolsas de estudo em instituições como New England Conservatory, Berklee, Julliard. Estudam para ganhar concursos de saxofone, piano, guitarra, violino, performance, etc. Portanto, jazzistas - em sua maior parte - são resultado da soma de talento, um ambiente positivamente carregado de música, e competitivade.

Juntando talento nato e muito, muito trabalho duro, o estudante de música têm ao seu dispor inúmeras escolas, bandas e cursos de verão para aprimorar seu talento. Oportunidades disponíveis, concorrência dura, esperando a livre-iniciativa dos candidatos ao sucesso: é a própria essência do capitalismo industrial, a mão invisível do mercado exercendo a seleção "natural" e separando os bons dos muito bons, onde vencem os dedicados - típicos "self-made man" da música, que constroem suas carreiras artísticas à custa de muito sacrifício e trabalho. 

Após enfrentar anos de estudos, inúmeros testes, provas e audições, horas e horas de prática, ensaio e preparação, o jazzista está pronto. Ironicamente, uma das artes mais livres e espontâneas depende de uma disciplina estrita e compromissos sérios com grades curriculares e notas. Para os jazzistas, principalmente os que surgiram desde os anos 80, quando explodiu o número de escolas de jazz e performance nos EUA, estar no palco de um jazzclub é, em grande parte, receber os louros pela vitória que conquistaram antes de estar ali.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço a sua participação. Comente livremente. Comentários mal-educados e sem fundamento serão excluídos.