Um pesquisador musical do século XX, o francês Pierre Mariétan, disse: “a música acontece no ouvido de quem escuta”. Tal afirmação, nos dias de hoje, nos faz pensar nas consequências de um fenômeno bastante corriqueiro, que é o fato de a música “bater à porta” dos ouvidos constantemente, chegando pelos mais diversos meios: carros de som passando na rua, televisão ligada, mp3 players, celulares, internet.
Com tanta música disponível, é importante refletir sobre o “como ouvir”, pois isso determina também o “o quê” e o “por quê” ouvir. Tentemos entender isso em uma breve história da tecnologia musical e sua relação com a escuta.
O antigo hábito de ouvir rádio proporcionava que os sons produzidos por grupos musicais eliminassem a distância até os ouvintes. Antes disso – e antes mesmo dos discos –, música só se ouvia em shows, bailes, ou em lares onde alguém tocava algum instrumento, por meio de uma partitura escrita – a música tinha que ser “lida”, num papel!
A indústria musical dos anos 50 até os 90 apostou no ouvido “sedentário” – ouça seu ídolo em sua própria casa - e fez de tudo para garantir altas vendagens de seu principal produto: o disco de vinil. A preocupação era de encantar o ouvido, mas também vender música, por
meio de um suporte plástico chamado disco. O long-play levou aos bares,
casas noturnas (quem não se lembra das jukeboxes que tocavam vinis a
troco de uma moeda) e lares o fascínio da música gravada.
Possuir uma vitrola era um luxo, pois dava ao ouvinte o poder de tocar sua música preferida a qualquer hora. O rádio, principal veículo de comunicação de massa até os anos 50, amplificava essa escuta, com programas musicais que veiculavam teatro, radionovelas e shows ao vivo – que mais tarde foram substituídos pela execução dos próprios LPs pelos recém-surgidos disc-jockeys.
Os discos evoluiram com novas tecnologias, e surgiram as fitas K-7, depois os CDs. Nos anos 2000, a digitalização pulverizou a indústria fonográfica com uma nova possibilidade: substituir o plástico pelo virtual, com o simples download de músicas. A principal consequência para a escuta é a explosão de consumo musical, pois temos a música em nossos bolsos, dentro de players digitais, celulares, e até acompanhada do videoclipe lançado na MTV, depois baixado do Youtube.
Música lida, música ouvida, música comprada, música baixada. Em meio século de história, os jeitos de se ouvir música foram mudando, pois os suportes foram se transformando. A pergunta é: nesses cinquenta anos, será que assumimos o papel de ouvintes ativos ou fomos apenas consumidores passivos de música? Escute o que te diz o seu ouvido.
*publicado na revista Perfil Araraquara, edição 20, janeiro de 2012. Versão integral, difere do publicado.
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